A indústria de roupas esportivas de compressão ganhou muita força nos
últimos anos, inicialmente utilizados na área médica, estes produtos estão
presentes em diversos esportes e, quem assistiu a última Copa do Mundo de
Futebol, por exemplo, talvez tenha notado que em alguns casos jogadores do
mesmo time possuíam camisetas com diferentes graus de compressão, enquanto
alguns utilizavam uma malha por baixo da camiseta oficial da equipe, em outros
jogadores a própria camiseta oficial era de compressão, agora chega o momento
das meias de compressão para a prática esportiva...
Na área médica estas meias de compressão possuem diversas faixas de
graduação, sempre medidas em milímetros de mercúrio (mmHg). Essas podem variar
desde 10-15 mmHg até mais de 50mm Hg.
No mundo esportivo, as meias de compressão podem apresentar um nível constante de compressão, em torno de 20-30 mmHg, ou possuir um nível gradual de compressão, em torno de 20-25mmHg na altura do tornozelo e diminuindo até 70% ao se aproximarem do joelho.
Em esportes como triatlo, as meias de compressão já são comuns, sendo
mais utilizadas na parte da corrida. Para se ter uma idéia do apelo dessas
meias no esporte, em 2009 a World Triathlon Corporation decidiu proibir o uso
delas no Ironman do Havaí, alegando que seu uso escondia o número do atleta,
pintado na panturrilha.
Como o número ficava escondido de quem viesse atrás apenas para os
corredores que estivessem usando as meias, isto poderia prejudicar a
competitividade do evento - atire a primeira pedra quem nunca tiver corrido um
pouquinho mais rápido só para passar aquele cara ali na frente que é da mesma
categoria. O barulho dos triatletas em resposta foi tão alto que logo depois a
entidade voltou atrás da decisão e resolveu não pintar mais o número na
panturrilha dos participantes, voltando assim a nivelar a competição.
Na corrida, o uso das meias de compressão não é tão grande ainda quanto
no triathlon, mas o aumento na quantidade de corredores com meias até os
joelhos em provas é nítido. Talvez incentivados pelo exemplo de ícones do
esporte como Paula Radcliffe (recordista mundial de maratona), e pelo fato de
que hoje um corredor com meias até os joelhos já nem se destaque mais na
multidão.
Os profissionais lançaram a moda, os amadores parecem ter aprovado e
estão aderindo. Mas será que isto é o bastante para justificar a eficácia de um
produto?
Normalmente não, e por isso é que recorremos a diversos estudos
independentes para se ter uma reflexão mais ampla do quanto as meias de
compressão realmente funcionam e quanto se deve ao efeito placebo desencadeado
pelo pensamento de "se fulano usa e diz que é bom, então quando eu usar
também vai ser bom".
UM MONTE DE VANTAGENS.
Vamos começar por um ponto crucial: o que os fabricantes alegam...
Entre páginas na internet dos próprios fabricantes e de algumas lojas,
vamos nos ater à seguinte lista:
- Prevenção do desenvolvimento de varizes
- Edemas de origem linfática
- Cãibras
- Fadiga muscular
- Melhora do fluxo sanguíneo e oxigenação da musculatura
- Aumento na remoção de ácido lático
- Diminuição da vibração muscular e dor tardia
- Diminuição na produção de ácido lático
- Melhora no desempenho.
Existem já diversos estudos publicados sobre os possíveis efeitos das
meias de compressão no mundo esportivo, enquanto alguns explicitamente buscam
por qualquer indicativo de que elas possam ser benéficas, outros já de início
se mostram mais céticos quanto aos resultados esperados.
Numa sequência interessante, a pesquisadora Elmarie Terblanche, da
Universidade de Stellenbosch, realizou dois estudos envolvendo o assunto:
No primeiro, partindo simplesmente da idéia de que as meias melhoram a
performance por aumentar a circulação sanguínea e transporte de nutrientes e
metabólitos, 10 corredores realizaram dois testes incrementais até a exaustão,
com e sem as meias. Apesar de não haver nenhuma diferença em performance entre
as duas situações, os níveis de lactato sanguíneo após o exercício diminuíram
mais rapidamente com o uso das meias.
Seguindo então a pista de uma possível melhora na recuperação pós-exercício,
o segundo estudo envolveu 62 corredores da Two Oceans (prova de 56 km na Cidade
do Cabo).
Metade do grupo competiu com as meias, e a outra metade as utilizou
apenas nos três dias após o evento, dois dos marcadores indicativos de dano muscular
medido estavam significativamente menores nos atletas que correram com as
meias, sugerindo algum benefício real de seu uso como facilitador da
recuperação muscular.
Ainda com relação as meias de compressão, e para seu uso durante o
exercício, um estudo Neozeolandês de 2007 investigou a utilidade das meias em
duas situações: durante dois testes incrementais separados por uma hora de
pausa e durante uma corrida de 10 km.
Enquanto os dois testes
incrementais tinham por objetivo analisar efeitos das meias sobre a performance
do segundo teste, os 10 km tinham por objetivo analisar a percepção de dor
muscular nos dias após a corrida.
Da mesma maneira que os outros estudos já citados, não foram encontrados
efeitos sobre a performance, enquanto a percepção de dor muscular,
especialmente na panturrilha e quadríceps, foi menor quando os participantes
utilizaram as meias.
Ainda na linha de performance, um estudo de 2009 avaliou o efeito do uso
de meias de compressão durante um teste máximo de esforço e durante corrida em
diferentes pontos de concentração de lactato, apesar de não encontrarem nenhum
diferença no consumo máximo de oxigênio, os pesquisadores verificaram um
aumento no tempo de exercício com o uso das meias, e também que a velocidade
associada com diferentes concentrações de lactato era maior quando as meias era
utilizadas.
O assunto ainda gera controvérsia, e alguns estudos são incapazes de
encontrar benefícios de meias de compressão mesmo em pessoas com síndrome
pós-trombótica durante exercício, teoricamente a população que mais deveria se
beneficiar delas.
No entanto, o grau de evidência em favor do uso ocasional de meias de
compressão parece muito mais promissor que o de diversos outros equipamentos
que já surgiram no mercado, é importante ressaltar que, uma vez que as meias
podem afetar a circulação sanguínea, o aval médico para seu uso sempre é uma
boa recomendação.
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