Engana-se quem pensa que, por terem um sabor agradável e refrescante, os cigarros mentolados são menos prejudiciais à saúde e não causam tanta dependência que os tradicionais. Eles são uma verdadeira armadilha, pois a suposta sensação gostosa aumenta a vontade de fumar e torna mais difícil ainda abandonar esse hábito nocivo, sem contar com o risco maior de infarto do miocárdio. Cada vez mais jovens estão se interessando pelos 'aditivados'. É a indústria do fumo usando de suas artimanhas para atrais novos adeptos.
Alex Régis
É crescente o número de jovens adeptos dos cigarros mentolados, e aumentam as novas marcas do tipo no mercado. riscos são os mesmos que do tipo tradicional.De acordo com uma pesquisa do Instituto Nacional do Câncer (Inca), 45% dos fumantes na faixa de 13 a 15 anos preferem os cigarros com sabor.
Percebendo a boa aceitação do produto e vendo nesses garotos potenciais consumidores a longo prazo, a indústria tem investido pesado na produção e na promoção.
O número de marcas desse tipo de cigarro simplesmente dobrou nos últimos três anos, passando de 21 para 40 (nesse momento, já pode ter sido lançada uma nova...)
A preocupação é mundial; tanto que um grupo de pneumologistas espanhóis, especialistas em tabagismo, solicitaram a proibição do mentol como aditivo em cigarros
Eles publicaram um artigo na Revista Prevenção do Tabagismo da Sociedade Espanhola de Pneumologia e Cirurgia Torácica afirmando que a dependência do tabaco entre os fumantes de mentolados é ainda maior que entre os tradicionais, pois constataram a necessidade deles fumarem o primeiro cigarro da manhã bem antes que os demais."Uma indústria que movimenta milhões e milhões de dólares no mundo, bilhões de reais no Brasil, tem que ser muito competente para captar novos adeptos e fazer novas pessoas viciadas. E, para isso, ela usa de todos os meios.
O público visado sempre será o mais jovem, porque ao tornar o indivíduo viciado, você vai ter um consumidor por mais vinte, trinta anos", comenta o pneumologista Elmano Marques, diante de sua experiência de 25 anos no tratamento de tabagistas. Ele alerta, porém, que, na verdade, qualquer tipo de cigarro, mentolado ou não, possui uma série de possibilidades de desenvolvimento de doenças, sendo as mais frequentes o enfisema pulmonar, a bronquite crônica e o câncer de pulmão. "O nosso foco, na realidade, está voltado muito para o cigarro de uma maneira geral.
Todos os embates, todas as campanhas que a Sociedade Brasileira de Pneumologia e o pneumologista fazem é contra o uso do cigarro."Para Elmano Marques, o uso de aditivos, aromatizantes ou mentol é apenas "perfumaria da indústria fumageira".Sabor diferente, riscos iguais.
O risco de desenvolver doenças cardiorrespiratórias é igual tanto para os adeptos de cigarros mentolados quanto tradicionais - podendo serem os aditivados ainda mais perigosos, por possuírem em sua composição outras substâncias como açúcar, o próprio mentol e um maior número de partículas extrafinas em sua fumaça, que aumenta a possibilidade de um infarto do miocárdio.
O Pneumologista Paulo Roberto Albuquerque diz não existir "cigarro light". Seja de menta, cravo, morango ou chocolate, o que os saborizados causam mesmo nos fumantes desse tipo, de acordo com ele, é uma falsa impressão de falta de perigo. "Eles tragam mais profundamente pois a fumaça é mais prazerosa e menos agressiva que dos tradicionais. Mas, até por isso mesmo, causa mais dependência física e psicológica que os outros. Inconscientemente, eles acabam fumando mais."Tanto Elmano Marques quanto Paulo Roberto Albuquerque enfatizam que é a nicotina a responsável efetiva pela dependência. "Existem alguns estudos comprovando que o vício, pode ser deflagrado em um espaço de tempo muito curto. Em 30 a 60 dias o indivíduo torna-se dependente. Há quem advogue que o indivíduo que é fumante e é viciado no cigarro provavelmente deva ter uma alteração genética, algo que o torna dependente da nicotina", analisa Elmano.
O agente de viagens Alessandro Duarte, 38 anos, deixou de fumar há cerca de dois meses devido a fortes alergias na garganta, mas conta ter sido adepto dos cigarros de cravo. "Fumava só pelo sabor mesmo, pois o outro tem um gosto muito ruim.
Mas ele fez o mesmo mal que os outros, isso se não fez ainda mais mal", reflete.
A estudante D.M.S, 30 anos, preferiu não se identificar para dar o seu depoimento, pois familiares e alguns amigos não sabem de seu hábito de fumar. Ela porém admite ter preferência pelos cigarros mentolados. "Não gosto dos tradicionais, se for para deixar os de menta, prefiro deixar logo de fumar de vez.
Pesquisa realizada pelo Instituto Datafolha para a Aliança de Controle do Tabagismo indica que a aprovação da proibição de aditivos nos cigarros é consenso numa parcela de 75% dos brasileiros. Já 76% dos entrevistados aprovam o aumento de impostos para os cigarros, e 78% é favor da proibição de publicidade em bares, bancas e outros pontos de venda. Marcas bastante conhecidas no mercado nacional têm investido no segmento.
A Marlboro, em 2009, tinha dois tipos de mentolados; hoje está com cinco. Há dois anos, a Hollywood não tinha nenhuma marca do tipo e hoje tem cinco.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária(Anvisa) já está atenta à questão, e tem uma proposta de tirar todas as marcas de aditivados de circulação, com o objetivo de diminuir a atratividade do cigarro. "A indústria produz este tipo de cigarro para induzir os jovens a fumar, tanto que lança formatos e cores diferentes para introduzi-los ao fumo e causar dependência.
E houve um incremento nas vendas, pois os fabricantes sempre se adiantam", comenta o pneumologista Paulo Roberto, recordando que quando era criança ouvia dizer serem os mentolados cigarros "para mulheres e homossexuais".
A maioria das marcas, porém, nega tentar induzir a juventude ao tabaco, usando para isso aditivos nos cigarros, em nota, a Philip Morris diz trabalhar apenas com produtos para adultos, já a Souza Cruz afirma não haver estudos conclusivos sobre a relação entre os ingredientes do cigarro, a iniciação ao hábito de fumar e os riscos à saúde. Para a empresa, o tabagismo está ligado, entre outras coisas, à influência de familiares e amigos.
Não existem pesquisas no Brasil que exponham a dificuldade de abandonar os cigarros com sabor - isso porque essa modalidade de fumante sempre acredita que o "gostinho bom" não esconde nenhum perigo.
O Programa de Atenção ao Tabagista do Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas, do governo de São Paulo, fez um levantamento sobre o uso de derivados de tabaco nos cinco primeiros meses de 2011 e constatou que os aditivados estão em segundo lugar na preferência. A consulta apontou que 22% dos ouvidos afirmaram ter fumado um mentolado nos últimos 12 meses.
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